domingo, 4 de novembro de 2012

É FÁCIL REDUZIR A DESPESA

A proliferação de comentadores políticos e económicos nas televisões nacionais tem dado a ideia que as reformas são fáceis de desenhar e mais fáceis de implementar. Senão vejamos. Alguns comentadores dizem que a redução da despesa do estado devia ser feita através da redução do setor local do estado (leia-se autarquias), da redução dos subsídios, das pensões milionárias, do número de  funcionários públicos, das despesas com a defesa, etc, etc....

Pois bem, quando o governo apresenta a intenção de reduzir as freguesias e as autarquias, logo aparecem manifestações contra a medida, multiplicam-se as entrevistas nos meios de comunicação por parte de autarcas a vociferar contra tão ignóbil medida, sustentando que o poder local é o santo graal da democracia e da satisfação das necessidades das populações.

Quando o governo começa a elaborar um conjunto de medidas para racionalizar as despesas na defesa, logo aparecm uns senhores generais, com ar indignado, a dizer que os militares têm salários penhorados e é perigoso manter militares armados e com dívidas.

Quando o governo tenta racionalizar o número de professores na educação, logo aparecem os habituais sindicalistas, ciosos na defesa dos professores, a dizer que a educação devia ser a paixão de todo um povo e, portanto, também o devia ser do governo, mesmo que tal não seja sinónimo de melhor educação.

Quando o governo revela a intenção de estudar todas as alternativas para repensar o serviço público de TV, logo aparecem os pseudo intelectuais a afirmar que a TV, tal como está, é a única alternativa viável para salvaguardar a identidade de um povo, mesmo que isso implique subtrair cerca de 300 milhões de euros de impostos aos portugueses para financiar o défice da empresa.

Quando o governo implementa uma nova medida no sentido de restringir o horizonte temporal de atribuição do subsídio de desemprego, logo aparece o líder de uma qualquer central sindical a dizer que o subsídio é uma garantia de sobrevivência e que não há emprego, embora se continue a assistir a milhares de empregos atribuídos a cidadãos imigrados em Portugal.

Quando o governo propõe, para o orçamento de estado de 2012, agravar os impostos para os rendimentos do último escalão do IRS, com sobre taxas de impostos, para assegurar uma maior equidade fiscal, logo aparecem uns senhores professores e comentaristas de fato e gravata a dizer que em Portugal se tributa rendimentos acima de 80.000 euros como se fossem milionários (tem piada que para a minha empregada rendimentos acima de 30.000 euros anuais é ser milionário - nada como a relatividade dos conceitos).

Como se vê, é fácil reduzir a despesa em Portugal, todos estamos de acordo desde que seja feito na casa do lado. Tributar a minha é sempre uma infâmia, uma desonestidade intelectual ou uma afronta à equidade.

Já me esquecia dos juizes. Ouvir o presidente da associação sindical dos juizes, em audição na comissão parlamentar da assembleia da república, dizer que o atual nível de tributação do rendimento dos juizes compromete a independência da classe é quase surreal, não fosse esta classe em Portugal estar constamente na televisão a fazer comentários sobre tudo o que se possa comentar. Admitir que uma tal afirmação é uma chantagem ao poder político é pura fantasia. Nem sequer me passa isso pela cabeça.

Enfim. Somos todos uns puros.

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