terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O ILUSIONISTA

Nas últimas semanas consta que um pretenso consultor / economista das Nações Unidas e do Banco Mundial deu uma série de palestras e entrevistas a vários orgãos de comunicação social.

Nessas intervenções, o pretenso consultor proponha um conjunto de medidas inadiáveis, entre as quais a renegociação da dívida.

Como os nossos jornalistas já se esqueçeram das suas obrigações em confirmar se as fontes são fidedignas, antes de dar qualquer notícia, o pretenso consultor teve direito a tempo de antena, e às mais inusitadas atenções dos media.

Passado o tempo das propostas bombásticas foi tempo de se fazer aquilo que se deveria ter feito logo de início. Ou seja, verificar a credibilidade do dito sujeito.

Feitas as primeiras pesquisas logo se concluiu que o dito consultor não passaria senão de um mais que provável impostor, pois as suas credenciais não batiam a bota com a perdigota.

Mais uma vez o nosso jornalismo foi posto à prova e chumbou rotundamente. Na ânsia de dar palpites fáceis para a resolução da crise, dá voz a qualquer um que se apresente com alguma receita milagrosa.

Triste vai um país em que tamanha quantidade de jornalistas e pretensos orgãos de comunicação credenciados dão voz a qualquer um que se apresente como um qualquer druída capaz de ter a poção mágica no seu bolso, ou num qualquer paper universitário, suportado num qualquer power point.

Já o meu filho é craque em power points na escola. Mas não é esse facto que faz dele um especialista em economia, muito menos num estratega credenciado na resolução de crises financeiras soberanas.

É tempo dos orgãos de comunicação social nacionais selecionarem melhor o tipo de comentadores que convidam para os debates sobre a crise financeira / económica. É que com tamanha falta de profissionalismo arriscamo-nos a que as mais cretinas sugestões, de pretensos especialistas, sejam projetadas também em outros orgãos de comunicação social estrangeiros, com repercusões necessariamente negativas para Portugal.

É que, infelizmente, as sugestões do tal pretenso consultor foram mesmo reportadas por orgãos de comunicação internacionais. E uma tal ignomínia em vez de auxiliar a imagem de Portugal só ajuda a afundar mais a sua credibilidade.

Haja bom senso e um pouco mais de profissionalismo....

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

PRIVATIZAÇÃO DA TAP

Após se ter conhecido o desenlace do processo de privatização da TAP, os sindicatos manifestaram o seu contentamento. Mas será que aos trabalhadores da TAP interessa mais uma TAP pública que privada ?

Sabe-se que a TAP tem um elevado endividamento e um desiquilíbrio operacional, que compromete a sua estabilidade financeira. Para além disso, a empresa necessita de equacionar novos investimentos para expandir as suas operações e, desse modo, almejar perspetivar equilíbro e estabilidade financeira.

Só que para tal a TAP necessita de injeções de dinheiro como do pão para a boca. Ora como o acionista Estado está impossibilitado de o fazer, devido aos constrangimentos da legislação europeia, então só resta à TAP equacionar a redução de custos para aliviar as suas despesas.

E  para a redução de custos é imperioso equacionar a redução de salários ou mesmo o despedimento de trabalhadores (já que não é possível poupar no combustível dos aviões). E como não se perspetiva que a empresa possa no curto prazo ser privatizada, não restará ao  acionsita enveredar por uma estratégia de contenção de custos.

Mais uma vez, os sindicatos alérgicos à iniciativa privada, deveriam ponderar antes de celebrar algo que não deve ser celebrado. Ou seja, se para a privatização da TAP apenas apareceu  um candidato é de desconfiar das qualidades intrínsecas da noiva (TAP). Ou esta não tem potencial ou está gorda demais para interessar potenciais pretendentes.....

Na Europa, a generalidade das empresas de aviação são já privadas. Querer que a TAP permaneça pública é apenas rabujice de quem não sabe as consequências adversas que tal situação pode provocar à empresa e aos seus trabalhadores.


domingo, 2 de dezembro de 2012

QUE PERDÃO DE JUROS ?

Muito se tem falado na eventual renegociação da dívida portuguesa e, eventualmente, do perdão de parte dela. Já por diversas vezes tive oportunidade de expressar a minha opinião quanto à dificuldade de alterar o satus quo. Leia-se perdão do montante da dívida e juros a pagar.

Contudo, existe uma hipótese, pelo menos académica, de haver um perdão de parte dos juros, sem que nenhuma das partes perca a face ou fique a perder em termos económicos.

Passo a explicar.

Aquando do início da crise, os mercados secundários penalisaram, substancialmente, as díviudas soberanas, exigindo um elevado prémio de risco, o qual determinou, imediatamente, a subida do yield (taxa de juro implícita) nas títulos de dívida dos países mais afetados, no mercado secundário de dívida (mercados onde se transacionam os títulos depois da sua emissão primária).

Em termos financeiros, quando o yield de um título de rendimento fixo sobe, isso significa que o valor patrimonial de mercado, desse mesmo título, desce. Isto acontece por que o montante de juro a pagar mantém-se inalterado, e o valor intríseco do título deve baixar para proporcionar um maior rendimento a quem está disponível a investir nesse título.

Tomemos o seguinte exemplo. Um título emitido com valor facial de € 1.000,  a uma taxa de juro de 3%, confere um rendimento anual de € 30. Ora se os investidores penalisam, em termos de risco, esse título, e só estão dispostos a investir se o seu rendimento esperado passar a ser de, por exemplo 17%, então o título passa a ser transacionado, no mercado secundário a € 176 (em vez dos iniciais € 1.000).

Foi exatamente isto que aconteceu aos títulos do países sob ataque, no auge da crise. Assim, os títulos do tesouro português, se tivessem sido emitidos a € 1.000, a uma taxa de juro de 3%, com o pico do yield a atingir os 17%, em fevereiro de 2012, estariam a ser transacionados, no mercado secundário, a € 176.

Por volta daquela data, o Banco Central Europeu fez aquisição de somas elevadas de títulos soberanos,com o intuito de não os permitir desvalorizar mais. Contudo, ao adquiri-los, ficou com títulos em carteira que hoje, ao preço de mercado, valem substancialemnte mais.

Ou seja, como Yield desses títulos está em redor dos 7%, significa que esses mesmos títulos estão agora a ser transacionados a um valor em volta dos € 429. Ou seja, quem adquiriu títulos do tesouro português, em fevereiro de 2012é e agora os queira vender, obtem uma mais valia potencial de 143%.

Nada mau para um investimento em menos de 1 ano.

Ora é precisamente esta margem que, no meu entendimento, é passível de ser perdoada pelo BCE. Ou seja, o BCE não é um banco de investimento, nem muito menos um banco especulativo.

Então, a parcela de stock de dívida em que possa a estar a obter ganhos económicos, ou seja um rendimento acima dos juros cobrados a Portugal, no âmbito do programa de estabilização negociado, poderia haver um perdão de juros. E só nessa medida.

Mas será que esse perdão pode ser significativo? Tudo depende do stock de dívida que tenha sido adquirida pelo BCE, aquando da tentativa de acalmar o mercado secundário de dívida.

Quanto maior tenha sido essa aquisição, maior potencial de ganho resultaria para o BCE, e, por esse motivo, maior perdão de juros poderiam os portugueses aspirar.

Ou seja, o BCE contentar-se-ia em receber juros correspondentes a uma taxa equivalente àquela que resulta do empréstimo a Portugal, no âmbito do programa de estabilização em curso. Assim, em vez de € 30 por cada € 1.000 de valor facial de títulos adquiridos pelo BCE, no mercado secundário, receberia apenas € 5,28, que correspondem a 3% de € 176 (valor de compra dos títulos em mercado secundário, à data de fevereiro de 2012).

Mas permitir que se faça isso é novamente um exercício que depende da interpretação dos tratados europeus. Certo é que em termos meramente económicos, o BCE não perderia (embora perdesse em termos financeiros) e Portugal, bem como os restantes países agradeceriam.

REPORTAGEM NEW YORK TIMES

Esta semana, o New York Times publicou uma foto reportagem sobre Portugal, evidenciando famílias pobres de imigrantes a viver em Portugal, mais precisamente na Amadora. Para além disso, mostrava pedintes sem casa, a dormir nas ruas de Lisboa.

Vários comentadores elogiaram a dita reportagem, por, supostamente, saber realçar as debilidades em que o País se encontra.

Mas será que o New York Times fez algo de tão relevante em termos jornalísticos ?

Precisamente na mesma semana em que aquele jornal norte americano fez a reportagem sobre Portugal, editava e publicava uma reportagem sobre o acto heróico de um polícia nova iorquino, que ao interagir com um mendigo, a descansar na soleira de uma porta, e, estando descalço, com temperaturas negativas, motivou o dito agente da autoridade a adquirir-lhe umas meias e botas para o aquecer.

Ora, é no mínimo confragedor, ver alguma imprensa nacional a elogiar a reportagem sobre Portugal, quando o mesmo jornal, e sobre um tema não menos chocante, apenas releva a dita atitude heróica do polícia, não enfatizando a desgraça que também impera sobre cidadãos norte americanos. Basta recordar os milhares de cidadãos americanos que ficaram sem casa, na sequência da crise do imobiliário, e que dormiam, e ainda dormem, em jardins públicos de algumas cidades daquele país.

O provincianismo dos nossos jornalistas em nada fica a dever ao provincianismo daqueles consumidores que adquirem apenas produtos importados, por que se é importado é melhor do que o nacional.

Infelizmente, concluímos, que também sobre o tema da desgraça, a desgraça dos outros é melhor que a nossa (leia-se menos desgraçada), quando são os estrangeiros a comentá-la.

Aliás se a reportagem sobre Portugal peca, é que a situação reportada não é de agora. Há muito que existiem mendigos nas ruas, pessoas sem casa a dormirem na rua, e bairros de lata na Amadora (aliás agora muito menos do que houve há anos atrás).

O anedótico da situação, para não dizer o triste da situação, é que no caso americano o que importou foi realçar o ato heróico do polícia, no caso português apenas o lado dramático das pessoas.

De um jornal que se pretende independente, espera-se, no mínimo, um tratamento idêntico para situações idênticas.