segunda-feira, 24 de setembro de 2012

RESMAS DE COMPETITIVIDADE

Quando o governo português anunciou as alterações na taxa social única (TSU), fundamentou a sua implementação com a necessidade de, através desta estratégia fiscal, proporcionar, de forma célere, fatores de competitividade às empresas portuguesas, idênticas às que resultariam da desvalorização cambial (instrumento fora do alcance do governo por fazermos parte da zona euro).

Áparte os descontentamentos que os sindicatos, partidos políticos da oposição (e não só) e parte substancial da população portuguesa manifestaram com a previsível implementação de uma tal medida, assistiu-se a um conjunto de agentes económicos que surpreendeu pela posição tomada. Refiro-me às entidades representativas do patronato bem como de alguns empresários mediaticamente conhecidos.

Vieram estes dizer que, a transferência de parte do ónus da TSU para os trabalhadores, em favor das empresas, não proporcionava qualquer incremento de competitividade às suas empresas, para além de fazer reduzir substancialmente a procura interna dos seus produtos e serviços.

Assim, assumiam as entidades patronais, logo seguidos por alguns patrões mediáticos, que se tal medida fosse avante, estariam na disposição, ou mesmo, afirmavam categoricamente que transfeririam a poupança potencial obtida, para os seus trabalhadores.

Ora, fazendo jus às afirmações das entidades patronais, ou seja, se a poupança resultante das alterações propostas à TSU não proporcionam acréscimo de competitividade às empresaas portuguesas, é legítimo concluir que as empresas portuguesas têm uma folga de competitidade pelo menos equivalente à poupança que obteriam com aquela medida.

Tal conclusão é reforçada pelo facto de as entidades patronais terem afirmado que assumiriam o aumento dos custos do trabalho, na exacta medida da poupança obtida.

Serve isto para dizer que os sindicatos nunca tiveram uma tão grande oportunidade para justificar, como legítima e justa, a reivindicação de aumentos salariais nas empresas portuguesas, equivalentes às poupanças que o empresariado português entendeu como desnecessárias ao acréscimo de competitividade.

O mais surreal de tudo isto, foi que, a rejeição às alterações à TSU, obtiveram a unanimidade das entidades representativas da indústria, comércio, turismo e até da agricultura.Vá-se lá perceber. Afinal, as empresas nacionais, de todos os sectores de atividade, esbanjam resmas de competitividade.

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